A FAMILIA DE VERÔNICA E A DESCOBERTA DA SEXUALIDADE

Riacho das Quengas - Joilson Assis 31


Meu pai com minha mãe. A briga era violenta e minha mãe batia e apanhava muito. É claro que eu corria no meio deles tentando apartar, mas era em vão os dois continuavam. O que eu podia fazer era chorar alto talvez eles parassem. Depois de muitas tapas dadas pelos dois os mesmos iam dormir na mesma cama e no mesmo quarto o que eu na época não compreendia. Por que tanto ódio se eles se amavam? No outro dia eles conversavam normalmente como se nada tivesse acontecido e quando o meu pai partia com seus burros ela chorava de Saudade. Eu tinha um irmão mais jovem e a barriga de minha mãe começava a crescer de novo e aquele era o sinal que um irmãozinho iria vim me fazer companhia. Foi aos dez anos que percebi que não era igual ao meu irmãozinho, pois ele tinha uma torneirinha no lugar aonde eu não tinha nada. As mulheres brincavam com ele e cheiravam sua torneirinha, mas eu nunca fui cheirada no mesmo canto que ele era. Eu era uma menina e tinha direitos diferentes do que os meninos com suas torneirinhas. Mas por que se já nascemos assim? Eu não compreendia, alias quase nada eu compreendia. Eu não compreendia quando eu ouvia gemidos vindos do quarto de meu pai. Será que minha mãe estava o maltratando? Eu era tão inocente










Riacho das Quengas - Joilson Assis 32


e a curiosidade acerca do assunto me trazia medo. Foi também aos dez anos que vi a minha mãe chorar contando às amigas que meu pai tinha uma QUENGA lá no açude de bodocongó e ela iria dar uma surra nela a qualquer momento. O mundo dos adultos era muito estranho para mim e uma porção de coisas sem significado eram ditas e eu nada entendia. Meus pais brigavam, brigavam,depois iam para o quarto e gemiam,gemiam. Os adultos eram tão estranhos para mim! Foi quando eu tinha dez anos que viajamos para um lugar puxinanã para vermos uma festa muito grande de inauguração de um grande açude. Tinha bebidas, danças e bêbados apertando as minhas bochechas dizendo que eu era linda. Muitos cavalos e até carros tinham na festa. Achei bonitos os carros que se moviam sem cavalos deixando uma fumaça preta no ar.(Possivelmente uma inauguração de um açude qualquer e não o açude de puxinanã, o principal,pois foi inaugurado somente em 1927)Comi muito e conheci vários amiguinhos e amiguinhas.Foi nesta festa onde fui abraçada pela primeira vez por um menino que me beijou EME agarrou. Eu não sabia por que mais gostei muito. A idéia mostrava que era errado, mas a intuição femi-











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nina dizia que não.
Aos onze anos eu gostava de brincar de pega-pega e de vez em quando minha mãe pedia para eu lavar umas roupas para auxiliá-la. Como alguns tinham tantas roupas, eu, minha mãe e meu pai tinham tão poucas? Por quê? Mas não importa, bastava eu lavar algumas peças para ser liberada para brincar com a garotada. As casas na época eram distantes, mas uma criança sempre busca outra para brincar como um adulto busca outro para conversar. A inocência na época era muito grande e a malicia natural custava a surgir em qualquer criança. Aos onze anos eu já era bonita, mas ainda era uma menina no corpo e na alma. O que realmente eu gostava de fazer era brincar, brincar, pois me fazia sonhar. Brincávamos de casinha e de soldado e índio e pedaços de paus eram nossas armas mortais. O que me estranhou um dia foi ver uma amiginha minha da minha mesma idade brincando diferente com um menino que a forçava contra a parede levantando sua saia. Fiquei horrorizada com aquilo, pois sabia que o pai dela não iria gostar de saber daquilo. Por insistências de minha amiga eu não disse, mas fiquei curiosa e uma vontade inexplicável me levava pra que eu praticasse o mesmo.









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Finalmente chegou o dia e contra a parede fui pressionada fortemente e a minha saia aquele menino levantou e passou a mão em mim. Eu queria saber por que daquilo, mas percebi que era bom. Certo dia passando pelas casas das quengas pôde observar pela porta mulheres sentadas no colo de homens bebendo e fumando mas eu ainda não compreendia o sistema da vida. Continuava com as minhas bonecas brincando de professora, de mãe e até de pai. Minha mãe teve vários outros filhos e eu como a mais velha cuidei de todos enquanto Maria da Silva lavava suas roupas.

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