VERÔNICA COMENTA SOBRE A ROTINA DAS QUENGAS NA ÉPOCA

Riacho das quengas – Joilson Assis 89


Quando é que quenga não pode escolher homem, toda espécie de homem temos que aceitar. Tanto fazia se fosse um doutor, um homem bonito e jovem ou um homem sujo e maltrapilho. O pior deles são aqueles que têm vícios sexuais que na hora da cama querem mais do que é oferecido a eles ou passam a bater na gente para sentir mais prazer. Alguns sentem prazer no carinho outros na dor, estes associam o prazer a dor e são eles que mais nos dão trabalho. Outros pedem para que batermos neles ou o chamemos de infeliz, safado etc. Parece que no sexo os homens e as mulheres deixam transparecerem seus comportamentos mais íntimos, seus medos, suas fobias etc. È na cama que muitos se transformam, machões se aboiolam, os “mulherengos” brocham. A cama e uma mulher bonita sobre ela se torna às vezes um grande consultório para tratamento de vários males psicológicos. Muitos homens de poder recebiam o nosso conselho para seus negócios suas políticas deitados ao nosso lado, rendidos pelo nosso amor. Quando se é quenga tem que ser esperta e um clima de esperteza pairam no ar. Ao contrário do que muitos pensam, os homens procuravam as quengas porque queria trocar idéias com uma represen-







Riacho das quengas – Joilson Assis 90


Te do sexo feminino. Ouvimos muitas histórias de fracassos que eles evitavam contar para suas esposas e nisto ganhávamos fregueses fixos e admiradores secretos. Alguns nem mesmo nos tocavam, apenas conversavam, conversavam, choravam sobre os nossos seios desnudos. Era um consultório sexual! De muitos casos que sabia dois deles me lembro! Um deles era o caso de um homem da alta sociedade, da sociedade dos vivos que era traído por sua esposa descaradamente mas ele não tinha coragem de delatar a situação por causa da família dela e da riqueza que tinha. A mulher dele o dominava, tinha um caso há muitos anos com o caseiro dela e todos os serviçais sabiam, mas nada ele poderia fazer. Ele gostava dela e tinha medo de perdê-la juntamente com a riqueza que vinha da família dela tudo que tinha. Era uma situação muito triste que o fazia chorar várias vezes em meu ombro, o outro caso era de um homem que era Homossexual e que sofria com isto, ele queria que eu o fizesse homem. Eu batia a mando dele em seu corpo falava palavras de ordem e autoridade como – “Fale direito seu veado. Vire homem seu fresco. Tome jeito seu baitola... Possua-me seu fresco...” Era engraçado demais e eu morria de rir com estas taras loucas.










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O bom destes loucos embutidos era o dinheiro que eles davam a mais e eu guardava o mesmo para um dia que iria precisar. Cheguei a ganhar um conto de reis por cada um destes que eu fazia terapia. Na época as mulheres eram muito presas sexualmente e havia vários casos de mulheres que passavam meses para dormirem com seus esposos os quais vinha para os nossos braços todos os dias. Eu não compreendia como aquelas mulheres que viviam tão bem não conseguiam abrir as pernas para o homem que era seu. Na casa das quengas sabíamos de tudo que acontecia nos bastidores no mundo do poder, da alta sociedade. Com isto uma grande parte das quengas eram mulheres esclarecidas e sabiam falar “mano” a “mano” com os homens de seu mundo tão conturbado.
O problema estava naqueles homens que queria provocar dor na gente enquanto amava. Certo dia um homem com cara de cigano me contratou para o prazer e no ato ele apagou o cigarro em minha perna deixando uma marca em carne viva. Eu reclamei e fui segurada com muita força em um ato quase como um estrupo. Como havia muitos gemidos e sons nos quartos ninguém veio quando alertei o problema. Fui emudecida e apanhei muito enquanto ele obtinha prazer. Tentei de tudo para sair dele, mas ele era mui-










Riacho das quengas – Joilson Assis 92




To forte e só me deixou quando terminou. Ele jogou o dinheiro em cima de mim e saiu e eu fui atrás batendo nele até levar um murro muito forte. Judite saiu ao meu socorro pulou em cima daquele canalha e começou uma luta muito forte. Ana Paula pulou também e repentinamente três ou quatro companheiras fizeram o mesmo. Aquele grandalhão resistiu, mas acabou apanhando de todas nós até que dos quatro surgiram homens e deram a maior surra que já vi o deixando caído ao chão desmaiado. Dizem que a vingança é um prato que se serve frio, mas é gostoso; é e muito. Era a minha primeira marca de cigarro que se somava as cicatrizes que meu pai fizera com o cipó de jucá.
Peguei varias vezes coceira e piolho. Era uma coceira que não acabava mais e tinha uns carocinhos que ao coçarmos se tornava uma feridinha manchando mais ainda a nossa pele. Pouco a pouco as marcas nos denunciariam que éramos quengas onde fossemos. Eu tentava evitar isto com remédios e banhos constantes, afinal, depois de meu filho nascer eu iria procurar outro emprego. No mês de Maior meu filho nasceu, outro homem em minha vida e eu não queria ficar longe dele. Mas a








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Pobreza excessiva é uma maldição muito grande, pois o vivo miserável pode menos que o morto rico. A memória dos barões, poderosos e ricos pode mais que um vivo que não nada tem, é um morto vivo. Eu alimentava o meu filho e chorava por saber que teria que entregá-lo a outros braços que não eram os meus. As lagrimas caiam sobre os meus seios e escorriam até a boca de Miguel como eu o chamava. Era um nome angelical, quem sabe algum anjo o protegesse. Miguel era lindo e tinha um aspecto de caboclo, com cabelos bem fininhos como de índio.
- Meu filho eu te amo, mas a mamãe não vai poder ficar com você. Mamãe é uma quenga e eu não poderei criar você aqui neste ambiente VIU MEU FILHO! O papai mamãe não se lembra quem é, mas eu tenho certeza que ele te ama também, viu!
Então eu chorava amargamente. Parecia que chorar era o meu destino imutável. Eu era apenas uma quenga, o que eu poderia fazer, talvez eu fosse realmente fraca e desprezível como meu pai dizia em seus momentos de raiva, quando praguejava-me sem pena alguma.








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