O DRAMA DA VIRGINDADE DE VERÔNICA, E A REAÇÃO DO PAI

Certo dia eu estava lavando as roupas como era de costume quando o meu pai chegou gritando o meu nome.
- Carol, Carol sua cabrita venha cá, agora.
- Sim senhor!
Eu nunca apanhei tanto e já no meio da rua eu levava lapadas de Jucá (planta nordestina) e todos olhavam para mim com olhar de dúvida do que estava acontecendo. Apanhei









Riacho das quengas – Joilson Assis 67


Muito e minha casa nunca foi tão longe quanto naquele dia.
- Entra rapariga, sua quenga. Você pensava que me enganava? Você vai ver.
- Pare com isto Zé, pare! Você vai matar a menina, pare!
- Não meu pai, não meu, por favor, por favor.
Eu apanhei que fiquei tonta e vomitei tudo que comi. Meu pai gritava, minha mãe chorava e meus irmãos e irmãs choravam também. Ele parava de me bater e depois de falar voltava novamente a bater em mim com toda força que tinha. Uma surra de Jucá doe muito e nem todos os homens agüentam uma e em prantos e dores me urinei toda. Que momentos tristes foram aqueles, pois até a minha mãe apanhou muito tentando reter a irá de meu pai. A vizinhança veio ver e seu José fechou a porta na cara deles.
- Sua cachorra, sua quenga safada você me desonrou, tirou a minha honra, acabou com o nome de nossa família, sua quenga.
- Calma Zé.
- Pai me perdoe, me perdoe...
- Zé, calma Zé vamos ouvi-la







Riacho das quengas – Joilson Assis 68


- Pai eu vou me cas...
Então eu desmaiei na sala vítima da tremenda surra que levei. Acordei-me só no outro dia e delirante sobre uma cama as minhas feridas eram tratadas com sal e vinagre. Eu apenas olhava para a minha mãe e ela para mim, parecíamos com medo uma da outra. Meu pai viajou e voltou três dias depois e disse-me – Vá embora da minha casa, aqui não pode ficar quenga por causa de seus irmãos. Maria “arrume” as roupas dela agora
- Homi, calma vamos conversar.
- “arrume” agora si não vai junto com ela.
- Pai o meu namorado é Tavares Correia de Oliveira ele vai me assumir assim que o emprego dele sair.
- Ele vai ter que assumir agora você não pode mais ficar mais aqui!
Então fomos atrás de Tavares na casa dos pais dele e chegando lá para minha surpresa ele tinha viajado com o trem que veio buscar algodão.
- Seu Antonio eu sou a mulher de Tavares há cinco meses e ele ficou de me assumir perante o meu pai.
- Eu não sei de nada minha filha, meu filho nunca disse nada









Meio do livro









Riacho das quengas – Joilson Assis 69


Pra mim. Ele tinha muitas namoradas e de vez em quando uma mulher vem aqui querendo que ele assuma filhos e virgindades. Mas meu filho não tem nada com estas quengas não viu. Seu José quem é que prova que foi o meu filho que fez isto com sua filha?
Isto, ela já era mulher há muito tempo as lavadeiras sabem disto.
- Não seu Antonio, eu era virgem e seu filho prometeu casar comigo, eu juro!
- Todas juram minha filha. Espere ai que vou chamar uma pessoa.
Ela chamou uma lavadeira que pra minha surpresa era Mariquinha que disse que eu que andava atrás do rapaz e me jogava pra cima dele constantemente. Tavares não queria mais eu insistia muito, até o incomodava.
- Viu se Zé que a sua filha não é tão inocente assim! Ela era virgem como minha vó era.
- Me respeite viu, fale direita se não vamos nos “imendar” viu.
- Irado com a moral ferida meu pai voltou para casa comigo e me mandou servir o ultimo almoço em sua casa. E enquanto eu comia sem muito gosto meu pai preparava um trabuco e colocava na cin-






Riacho das quengas – Joilson Assis 70


Tura o que causou tanto medo. Aquele homem que tanto amava e chamava de pai estava transformado, era hostil e bruto e me tratava como jumento qualquer. O outro homem que tanto amei desapareceu, me abandonou e me fez de mentirosa. Tudo aquilo parecia um pesadelo e eu rezava para acordar deste horrendo sonho. Não podia ser verdade tudo aquilo, a qualquer momento eu iria despertar em cima d e minha cama sentindo o cheirinho do café de dona Maria. Para minha infelicidade tudo aquilo que estava acontecendo era pura realidade e eu andava como um zumbi, um ser sem alma nem destino certo.
Depois do almoço meu pai novamente colocou as minhas coisas sobre o jumento e partimos deixando a minha mãe a chorar muito. Para onde iríamos? Para onde meu pai iria me levar agora? Fomos em direção do açude de Bodocongó e do lado oeste para sul paramos em uma casa de quenga, a casa de dona Yayá, quenga chefe de um grande bordel no local.
- Pai, não pai, isto não! Por favor não.
- Você se perdeu minha filha, siga seu destino.
- Ele vai voltar meu pai e me levará. Ele vai voltar, eu tenho certeza pai, por favor...









Riacho das quengas – Joilson Assis 71


- Se ele voltar que venha te buscar aqui.
Então chorei muito e as lagrimas não me deixavam ver direito as coisas. Meu mundo estava desabando e eu queria morrer.
- Dona Yaýa, eu trouxe esta menina aqui que se perdeu, virou quenga. Vou deixar aqui pra senhora tomar conta dela. Ta certo?
- Seu Zé a casa ta cheia e eu não tenho onde colocar ela não.
- “arranje”” um lugar pra esta cabrita dona Yaýa.
- Ta certo seu Zé, mas ela é tão novinha!
- Chega de conversa dona Yaýa. A senhora vai ficar ou não?
- Ta certo, venha cá minha filha.
Aqueles dois pareciam tramar o meu destino, o meu enterro para a sociedade dos vivos. Enquanto as quengas retiravam minhas malas eu olhava para o meu pai que evitava olhar para mim. Era um conjunto de barracos de taipas, barro e madeira com muito lixo ao lado e vários cachorros magros a “latirem”. Naquelas não havia jardins com flores e sempre existiam um ou dois bêbados caídos ao arredor. Depois que as quengas retiraram minhas coisas do jumento meu pai pegou o mesmo e começou a ir embora. Eu corri chorando atrás dele o






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Chamando.
- Pai, pai, pai não me deixe aqui! Por favor, pai meu pai, por favor.
Mas ele nada me dizia. Não me respondia nada. Me agarrei com a perna dele enquanto dona Yaýa me tentava segurar e consolar.
- Papai eu sou sua filha mais velha, por favor. Não me deixe aqui meu painha, meu painha, painha...
Cai no chão e no chão olhava ele partir montado naquele jumento levando também o meu. Em prantos de morte eu desesperada para ouvir dele qualquer coisa disse:
- Benção meu pai, sua benção pelo AMOR DE DEUS.
- Deus te der vergonha em toda sua vida Ana Carolina!
Em prantos permaneci no chão até que vieram três ou quatro quengas em prantos também e me levaram nos braços chamando pelo meu pai. Elas choravam muito, pareciam reviveram os dias que chegaram naquele lugar tão triste. Eu queria morrer, desaparecer e nada me importava mais. Eu só chamava pelo meu pai e por minha mãe todas as horas e as quengas tentavam me consolar.




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