AS LAVADEIRA DE BODOCONGÓ

Para evitar o transporte de água até lá em casa a minha mãe começou a lavar as roupas no próprio açude que tinha acabado de ser inaugurado no ano de 1917 e eu ia junto para ajudar. Depois de lavarmos uma imensidão de roupa as mulheres começavam a falarem de seus amores e entre uma palavra e outra sempre surgia uma intimidade que aumentava mais ainda a minha curiosidade acerca do assunto. O que os homens faziam com as mulheres que elas achavam tão bom? Naquelas escorredeiras se falavam de tudo, de chifres, de moças perdidas, de tudo.











Riacho das quengas – Joilson Assis 35


Aquelas mulheres eram mais fuxiqueiras que as minhas bonecas! Elas realmente falavam de tudo, de Deus e do mundo inteiro e enquanto suas mãos trabalhavam suas bocas contavam estórias incríveis. Será que toda lavadeira é fofoqueira? Era o que se passava em minha mente constantemente.
Eu Sonhava muito em um dia ser mulher de dono de engenho que era homens bravos e ricos segundo as lavadeiras comentavam. Eles viviam em mansões arrodeiados de capangas e tinham muitos empregados aos seus serviços. Mas eu ficava na dúvida se casaria com um senhor engenho ou um soldado valente do exercito para ter filhos valentes e fortes. Quem sabe eu não conseguisse andar até em um daqueles carros barulhentos e com muita fumaça saindo por detrás dele. Cada história contada por aquelas lavadeiras de roupa eu viajava em minhas imaginações e uma hora eu era mulher e delegado, em outra de político. Algumas vezes sonhava em ser enfermeira e tratar de vários doentes salvando vidas. Eram tantos os meus sonhos que aquelas mulheres que lavavam roupa muitas vezes me acordavam com gritos, em meus sonhos acordados parecia que eu saia de meu corpo.




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